quarta-feira, 10 de abril de 2013

Giovanna Antonelli fala do sucesso de Helô, em ‘Salve Jorge’: ‘Ela é mulherzinha e homenzinho’


RIO - Dormir oito horas seguidas durante a noite, definitivamente, não é para Giovanna Antonelli. Além de se deitar tarde, por volta de uma da manhã, a atriz conta que costuma se levantar da cama várias vezes. Nesses intervalos de sono, responde a e-mails, manda mensagens para seu secretário sobre os afazeres do dia seguinte e faz anotações em seu celular com observações sobre Helô, sua personagem em “Salve Jorge”.

— As pessoas acordam e, às seis da manhã, já têm um e-mail meu respondido. Elas costumam perguntar: “Você não dorme?”. Não que não goste de dormir; eu adoro, mas minha cabeça não para. Eu sempre fui assim. Muitas vezes durmo com o problema e acordo com a solução — explica.

A atriz conta que seu jeito inquieto, de “pisciana densa e intensa” — ela fez 37 anos em 18 de março — se reflete diretamente na forma como encara seu ofício. Na reta final da trama das 21h, Giovanna ainda busca novos elementos para Helô, seja num olhar ou num jeito de falar. A delegata, que fez as mulheres copiarem seu estilo perua chique, é onipresente na trama de Gloria Perez, que chega ao fim em maio. Sem exageros. Responsável pelas investigações sobre o tráfico de pessoas, Helô transita por todos os núcleos da história e, naturalmente, aparece em grande parte das sequências. Seja manhã ou madrugada, a moça está lá. Incansável, de cílios postiços, em cima do salto de 15 centímetros.

— O mais interessante é que Helô não perdeu as cores ao longo dos quase 180 capítulos. Continua jogando para todos os lados, o que permite me movimentar de formas diferentes dentro da mesma mulher — argumenta, acrescentando que a delegada criou uma identificação com o público por ser “muito humana”: — Ela é mulherzinha e homenzinho. Ao mesmo tempo em que tem aquele jeito superpoderoso na delegacia, onde comanda e delega, tem uma relação frustrada com a filha, uma deficiência, que é a compulsão por compras, a relação com a secretária em casa e o caso mal resolvido com o ex-marido. Ela é uma sobremesa para qualquer ator — empolga-se.

Giovanna diz que detesta parecer acomodada. Odeia ficar na zona de conforto. A cada bloco da novela, ela frisa, quer surpreender. Ao longo de 20 anos de carreira, a atriz sabe que o público percebe quando o ator “não veste a camisa”. Como termômetro de sua interpretação, gosta de recorrer às redes sociais. É nessa “troca imediata” que sente se Helô está crível ou caricata. Conta que também gosta de ouvir críticas dos colegas de cena. E, garante, não leva nada para o lado pessoal:

— Quando alguém diz que eu poderia ter feito melhor, muitas vezes eu concordo. Por isso gosto quando o diretor ou um colega sugere um caminho para a cena. Pode ser muito melhor que a sua ideia.
E, quando põe o pé no estúdio, Giovanna jura que dá tudo de si. Embarca no que está sendo contado, afirma. Não tem medo de “pagar mico”, embora surreal seja definição corriqueira nas redes sociais para muitas cenas de “Salve Jorge”.

— Graças a Deus podemos trabalhar com a licença poética. Vejo a TV como uma fábrica de ilusões, e as pessoas querem esquecer os problemas entrando numa história de amor, ou no que seja. O lúdico e o impossível podem existir, porque senão estaria se fazendo jornalismo, né? E Gloria faz um trabalho lindo, chamando a atenção para a questão do tráfico de pessoas, que a gente nem sabia direito o que era. Ela já leva essa informação de forma tão diluída e explicativa que não vejo problemas no uso da licença poética. Quem assiste avaliando tanto se torna um chato — desabafa, defendendo a trama.

Embora concorde que esteja fazendo um trabalho elogiado, é difícil para a própria atriz reconhecer que está bem. A autocrítica, ela pontua, é um de seus “milhões de defeitos”.

— Estou feliz como um todo, sei que tenho muitos degraus para galgar, mas Helô me abriu novas possibilidades. Sempre acho que meu desempenho poderia ser melhor. Sofro muito, acho que perdi a cena. É uma mente que não para de pensar (risos) — analisa ela, que sonha interpretar papéis icônicos como Heleninha Roitman, de “Vale tudo”.

Quando sente — e é avisada pelo marido (o diretor Leonardo Nogueira) e pela família — que está pensando e dramatizando demais, Giovanna gosta de meter o pé na terra. Literalmente. Ela comenta que em seu sítio, na serra fluminense, já plantou mais de 300 árvores frutíferas. Chegou até a trazer uma seringueira da Amazônia, arraigada em seu antigo quintal. E tem os umbigos dos três filhos (Pietro, de 8 anos, e as gêmeas Antonia e Sofia, de 2) plantados lá. O do primogênito, da relação com Murilo Benício, está numa oliveira. Os das meninas, do casamento com Leonardo, em duas cerejeiras.

— Desde criança gosto de mexer em canteiro de rua. Me reenergiza, até mais que o mar. Sempre tive o sonho de ter uma casa com muitas árvores. Acho interessante ter pedaços meus num lugar que considero sagrado para mim; no caso, meu sítio. Já que tive filhos e plantei árvores, agora só falta escrever um livro, né? — brinca.
Além de visitar o sítio, para onde viaja sempre com a família, Giovanna gosta de estar rodeada de gente. Abomina a solidão. Diz que sempre está acompanhada em casa e em restaurantes. Menos em boates. Sem molejo, a atriz odeia dançar:
— Não entendo aquelas pessoas sacolejando em grupo. Prefiro jantar fora, tomar um vinho. Posso ficar até seis da manhã acordada, mas num programa mais tranquilo. Afinal, já tenho 37 anos, né? Passou a época das farras.

Não que esteja se achando velha. Embora evite pensar na chegada dos 40 — “Não estou feliz com isso” —, Giovanna reconhece estar melhor agora do que há dez anos. Tudo bem, o paladar continua infantil — ela não abre mão do “Toddynho com Passatempo recheado” —, mas o amadurecimento tem feito bem. Giovanna conta já ter sofrido com seu jeito controlador e o temperamento extremo, do tipo tudo ou nada. Mas com o tempo — e com a análise — aprendeu a ser mais ponderada, e acha que está “envelhecendo melhor”.

— Eu me cobro demais. Sou metódica. Preciso ser a melhor mãe, a melhor mulher, a melhor atriz. Para mim, tudo tem limite, regra, horário. A análise me ajudou. Se eu pudesse teria começado ainda criança para evitar os traumas de agora. Meu filho faz, e quero que as gêmeas façam — planeja.

Mesmo sem tempo para malhar, ela não reclama do corpo. A atriz, que já fez uma lipo após o nascimento de Pietro, revela que faria outra, se necessário. Silicone, não pensa em colocar. E embora adepta do botox desde a época de “O clone”, tem passado longe da seringa ultimamente:
— Hoje acho minha pele muito mais bonita. E chego muito bem aos 37, realizada. É verdade que a mulher moderna é uma verdadeira malabarista, mas meus filhos, meu marido e meu trabalho alimentam a minha alma.

As crianças são prioridade. Aos domingos, quando não grava, a atriz passa o dia com a prole. Também gosta de acompanhar os estudos de Pietro. E não esconde que é rígida:

— Sou do diálogo, acredito na lavagem cerebral pela repetição. Mas, como disse, sou intensa. Se Pietro escreve uma letra errada, eu apago a palavra toda (risos).

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